20 Nov 2019 Reportagem Climate Action

Cidade mexicana aposta na natureza para combater efeitos das mudanças climáticas

A cidade mexicana de Xalapa é cercada por ecossistemas que abrigam uma flora e fauna impressionantes e, além disso, fornecem serviços cruciais para a cidade e seus 580 mil habitantes.

A floresta nublada, uma mata indígena nas montanhas que avizinham a cidade, fornece 30% do suprimento de água de Xalapa, já o solo e a vegetação que a rodeiam, de distinta diversidade, representam uma reserva vital de carbono. No entanto, estes bens naturais e a própria cidade têm sentido os efeitos das mudanças climáticas. Temperaturas oscilantes e flutuação do regime de chuva têm desestabilizado as encostas das montanhas da cidade, levando a deslizamentos de terra frequentes. Além disso, chuvas intensas nas montanhas têm criado cascatas em direção às áreas urbanas, causando tumulto para os moradores da cidade.

"A resiliência humana às mudanças climáticas depende dos ecossistemas. Precisamos de medidas urgentes para protegê-los", diz Isabel Garcia, autora de um estudo que examina a vulnerabilidade climática de Xalapa.

Em particular, o estudo de Garcia identificou a expansão urbana como um fator agravante dos riscos relacionados ao clima enfrentados pela cidade.

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As florestas nubladas de Xalapa fornecem um terço do suprimento de água da cidade e estão ameaçadas. Foto do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (Conacyt)

"Temos uma cidade que possui aproximadamente 20 mil casas desabitadas, porque foram construídas em áreas inacessíveis, sem água potável e sem serviços de drenagem", diz Angelica Moya, Vice-Diretora de Planejamento da Xalapa.

"Temos assentamentos informais em áreas que nunca deveriam ter sido urbanizadas, e agora temos deslizamentos de terra e inundações".

Foco em soluções naturais

Por reconhecer os impactos das mudanças climáticas enfrentados pela cidade e a importância dos ecossistemas vizinhos de Xalapa para a adaptação de seus habitantes a essas mudanças, as autoridades locais agora estão voltando-se para soluções naturais. Em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), estão trabalhando para restaurar e proteger grandes áreas de floresta nublada da cidade sob o projeto CityAdapt, apoiado pelo Global Environment Facility.

Uma iniciativa de cinco anos, o CityAdapt está trabalhando na América Latina e no Caribe para apoiar cidades em seus esforços para adaptarem-se às mudanças climáticas, uma questão cada vez mais prioritária para os municípios da região, de acordo com o Diretor do PNUMA para a América Latina e o Caribe, Leo Heileman.

"Na América Latina e no Caribe, onde 80% da população vive nas cidades, precisamos urgentemente mudar do ciclo vicioso da degradação para a dinâmica virtuosa dos ecossistemas resilientes", diz Heileman.

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A rápida expansão urbana de Xalapa gerou custos para os ecossistemas dos quais a cidade depende.
Foto de CityAdapt

O projeto CityAdapt marca Xalapa como a primeira cidade da América Latina a aproveitar o potencial da adaptação baseada em ecossistemas, uma abordagem que usa a natureza para se adaptar às mudanças climáticas. Por contar com a natureza, por exemplo, com o papel das árvores na regulação do fluxo de água e na prevenção de deslizamentos de terra e erosão, a adaptação baseada em ecossistemas pode ajudar a reduzir inundações e secas, e geralmente é muito mais econômica do que estruturas artificiais projetadas para desempenhar o mesmo papel.

“O principal objetivo deste projeto é aumentar a capacidade dos governos locais de enfrentar os efeitos adversos das mudanças climáticas”, afirma Sergio Angón, coordenador nacional da CityAdapt no México.

Dentro da estrutura do projeto, dois relatórios já foram produzidos para Xalapa sobre sua vulnerabilidade às mudanças climáticas e os possíveis cenários climáticos para 2039.

A análise de vulnerabilidade identificou áreas com maior risco de mudança climática. Também mediu a capacidade adaptativa dos ecossistemas que atualmente fornecem a Xalapa seu suprimento de água superficial, sua retenção de solo e seu armazenamento de carbono.

De acordo com a análise, a floresta nublada de Xalapa, um ecossistema já reduzido a apenas 1% de sua área anterior no México, pode ter um aumento de temperatura de até 1,8 °C até 2039, afetando a biodiversidade e potencialmente aumentando a propagação e intensidade de doenças nas plantações de café próximas.

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Os agricultores estão aprendendo práticas agro-florestais para melhorar a produção de alimentos sob um clima mutável, enquanto protegem a biodiversidade.
Foto do PNUMA

Equilibrar pessoas e natureza

Ao restaurar a floresta e trabalhar para limitar os impactos negativos no meio ambiente da cidade em expansão, o CityAdapt está ajudando Xalapa a encontrar um equilíbrio vital entre pessoas e natureza.

"Precisamos levar Xalapa de maneira ordenada em direção a um novo modelo de desenvolvimento territorial, no qual a resiliência seja o foco principal", diz o prefeito de Xalapa, Hipólito Rodríguez.

Além da pesquisa e da restauração florestal, o CityAdapt está apoiando outras iniciativas de adaptação, como o planejamento aprimorado das bacias hidrográficas e o fortalecimento dos meios de subsistência locais.

Sistemas de captação de água da chuva estão sendo introduzidos em prédios públicos e escolas, assegurando o fornecimento adequado de água diante das chuvas cada vez mais imprevisíveis, enquanto o projeto também ensina práticas agrícolas resistentes ao clima para as comunidades locais.

"Esta é uma oportunidade para repensar a maneira como construímos as cidades", diz Angelica Moya.

 

Construindo resiliência climática de sistemas urbanos por meio de adaptação baseada em ecossistemas na América Latina e no Caribe (CityAdapt) é um projeto de cinco anos que apoia cidades da América Latina e do Caribe em seus esforços para adaptarem-se às mudanças climáticas. O CityAdapt é liderado pelo PNUMA, com o apoio do Global Environment Facility.

 

Para mais informações, por favor entre em contato com:

Roberta Zandonai, Gerente de Comunicação Institucional, PNUMA, roberta.zandonai@un.org