16 Jun 2020 Notícia

Relatório da REN21 mostra que avanço de energias renováveis está restrito ao setor de eletricidade

Paris/Nairóbi, 16 de junho de 2020 – O crescimento da energia elétrica renovável tem sido significativo nos últimos cinco anos, mas muito pouco está acontecendo nos setores de aquecimento, resfriamento e transporte. No geral, a demanda global por energia continua aumentando e impactando o desenvolvimento, de acordo com o Relatório Renewables Global Status Report 2020 (GSR) da REN21, divulgado hoje. A trajetória em direção ao desastre climático continua, a menos que haja uma transição imediata rumo a energias renováveis e sustentáveis em todos os setores da economia após a pandemia de COVID-19.

“Temos relatado sucessivas conquistas no setor de energia elétrica renovável nos últimos anos. De fato, a eletricidade renovável tem tido um progresso fantástico, superando todos os outros combustíveis em crescimento e competitividade. Muitas organizações nacionais e globais clamam vitória, mas nosso relatório dá um aviso claro: o progresso no setor elétrico é apenas uma pequena parte do cenário. Terá valido pouco, se a demanda energética mundial continuar aumentando. Se não mudarmos todo o sistema energético, estaremos nos iludindo”, afirma Rana Adib, diretora executiva da REN21.

O relatório mostra que nos setores de aquecimento, resfriamento e transporte, as barreiras ainda são quase as mesmas de 10 anos atrás. “Também devemos parar de aquecer nossas casas e dirigir nossos carros com combustíveis fósseis”, diz Adib.

Não há disrupção real na pandemia de COVID-19

Em consequência à recessão econômica devido ao COVID-19, a International Energy Agency prevê que as emissões de CO2 relacionadas à energia devem cair até 8% em 2020. Porém, as emissões de 2019 foram as mais altas até então, e o alívio é apenas temporário. O cumprimento das metas de Paris exigiria uma redução anual de pelo menos 7,6% a ser mantida nos próximos 10 anos. “Mesmo que os bloqueios continuassem por uma década, a mudança não seria suficiente. No ritmo atual, com o sistema atual e com as regras atuais de mercado, o mundo levaria uma eternidade para chegar perto de um sistema descarbonizado”, explica a diretora executiva.

"Muitos pacotes de recuperação nos prendem em uma economia de combustível fóssil sujo"

Ainda segundo Adib, pacotes de recuperação oferecem chances únicas de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. No entanto, há um grande risco dessa grande oportunidade ser perdida. “Muitos desses pacotes incluem ideias que nos prenderão ainda mais em um sistema de combustíveis fósseis sujos. Alguns promovem diretamente o gás natural, o carvão ou o petróleo. Outros, apesar de reivindicarem um foco verde, constroem o telhado e esquecem a fundação”, diz. “Veja os exemplos de carros elétricos e de hidrogênio. Essas tecnologias só são verdes se forem movidas por energias renováveis".

Escolhendo um sistema energético que apoie a criação de empregos e a justiça social

O relatório aponta que medidas de recuperação “verdes”, como investimento em renováveis e eficiência em edificações, são mais rentáveis do que as medidas tradicionais de estímulo e oferecem mais retorno. Além disso, documenta que as renováveis promovem a criação de empregos, a soberania energética e a diminuição de emissões e da poluição do ar.

O que contrasta com o custo real dos combustíveis fósseis estimado em US$ 5.200 mil milhões de dólares, se forem contabilizados impactos como a poluição do ar, os efeitos das mudanças climáticas e o congestionamento no trânsito.

Sistemas energéticos renováveis apoiam a soberania energética e a democracia, empoderando cidadãos e comunidades, em vez de grandes produtores e consumidores de combustíveis fósseis. “Quando gastamos dinheiro de estímulo, temos que decidir: Queremos um sistema energético que sirva a alguns ou que atenda a muitos?”, questiona Adib. “Mas não se trata apenas de dinheiro. Devemos acabar com qualquer tipo de apoio à economia fóssil, especialmente para usos nos setores de aquecimento, resfriamento e transporte. Os governos precisam mudar radicalmente as condições e regras do mercado e apresentar a mesma liderança que demonstraram durante a pandemia de COVID-19”.

O relatório constatou que:

  • A demanda total de energia continua em alta (1,4% ao ano de 2013 a 2018), mas a participação das energias renováveis aumentou pouco (de 9,6% em 2013 para 11% em 2018). Em comparação com o setor elétrico, os setores de aquecimento, resfriamento e transporte estão defasados. Enquanto a parcela o setor elétrico é de 26%, para o aquecimento e resfriamento ela é de 10% e para transportes é de 3%.
  • O progresso atual é resultado de políticas e regulações antigas e se concentra especialmente no setor elétrico. As barreiras de aquecimento, resfriamento e transporte ainda são as mesmas de 10 anos atrás. Precisamos de novas políticas para nos adequarmos ao mercado.
  • O setor de energias renováveis empregou cerca de 11 milhões de pessoas em todo o mundo em 2018.
  • Em 2019, a capacidade de geração de energia renovável cresceu mais de 43%, graças aos contratos de compra de eletricidade (PPA) assinados pelo setor privado.
  • As greves climáticas se superaram com a participação de milhões de pessoas de 150 países diferentes pressionando os governos para intensificarem a ambição climática. Até abril de 2020, 1.490 governos (nacionais, regionais e municipais) – de 29 países e abrangendo mais de 822 milhões de cidadãos – declararam o estado de "emergência climática" e pediram por planos e metas para a promoção dos sistemas de energias renováveis.
  • Enquanto alguns países eliminam permanentemente as usinas de carvão, outros ainda investem nesse sistema. O financiamento por bancos privados para esses projetos tem crescido anualmente desde a assinatura do Acordo de Paris, totalizando US$ 2,7 trilhões nos últimos três anos.

 

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